sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Lei de acesso à Informação: Aplicação Prática na Prefeitura de São Paulo

A Longa historia de um pedido de informação: 

A lei de acesso à informação, Lei n° 12.527, regulamenta o direito constitucional de acesso dos cidadãos às informações dos órgãos públicos, incluído governos e prefeituras. A lei Entrou em vigor em 2012 e teve muita publicidade e esperanças que ajudasse a combater corrupção e  má administração publica.
A distância de dois anos e muita falação, a burocracia brasileira não consegue assimilar e conceito de transparência.  Mas do que isso, os vários níveis de governo não conseguem encarar a ideia que eles têm obrigação de dar explicação sobre o próprio operado e que tudo aquilo que é feito com dinheiro publico é PUBLICO!  
Infelizmente esta mentalidade é muito forte na administração que esta mais próxima de todas ao cidadão e que deve mais explicações de todas: a prefeitura.
Estou experimentando a cultura do segredo na investigação que estou fazendo ao sobre uma obra da prefeitura de São Paulo, concluída em 2013.
Desde Outubro 2013 estou fazendo averiguações sobre a construção do Centro Cultural de Cidades Tiradentes.  Para obter esclarecimentos sobre a obra já fiz vários pedidos de informação à prefeitura, através do sistema eletrônico da prefeitura para estes fins: o sistema e-sic:  O sistema eletrônico do serviço de informações ao cidadão.
O sistema e-sic de acesso a informação (http://e-sic.prefeitura.sp.gov.br/) da prefeitura de  São Paulo é  bom e fácil de usar.  Você se cadastra, escreve o pedido de informação, seleciona o órgão para o qual a pergunta é feita. Ao submeter o protocolo o sistema registra a data do pedido e a data limite para a resposta.
O problema que este elegante sistema eletrônico é só um meio para pedir informação.
A informação verdadeira deve vir dos tradicionais funcionários públicos que – na minha opinião –excelem em omissão.
O primeiro pedido de informação que fiz sobre o centro cultural, pedindo esclarecimentos sobre os custos do projeto mencionado, foi ignorado. Então eu reclamei com a Controladoria e, no mesmo dia, recebi uma planilha com lista do orçamento dividido por ano e fonte. A Planilha não informava praticamente nada e, sobretudo não esclarecia as perguntas principais: porque o projeto custou tanto? Porque os custos se multiplicaram ao longo dos anos?  E porque terminou com um custo de 63% acima do contrato com a empresa que venceu a licitação?
Fiz estas pergunta várias vezes em vários pedidos de informação.  Só conseguir obter informações que já estavam no meu possesso, a maior parte porque já disponíveis na internet.  As perguntas principais continuam sem resposta oficial.
Em total fiz cinco pedidos de informações sobre o centro cultural. O ultimo ainda esta aguardando resposta.  
A sútil mensagem que recebo é: A obra foi construída pela prefeitura e ninguém tem direito a questionar nada.
Não era minha intenção fazer todos estes pedidos para ter informação sobre um único projeto. Todavia as respostas aos pedidos foram sempre parciais, omissas ou não respostas. Ao contrario de responder as perguntas, as respostas aos pedidos de informação criaram mais dúvidas.  A Secretaria de Cultura brilhou por não respostas e meias respostas. 
O meu ultimo pedido de informação à Secretaria de Cultura, a qual é responsável pelo projeto, praticamente ficou sem resposta: simplesmente fui convidada a “ir ver o processo” diretamente na Secretaria de Infraestrutura e obras, a qual realizou o projeto.
Tentativas de esclarecer a questão por telefone também faliram. O chefe de gabinete da Secretaria de Cultura, certo Rodrigo Savazoni, nunca estar no trabalho e nunca responde aos meus recados.
Todavia decidi aceitar o conselho e ir ver o processo n° 2008-0.052.155-9. Mas logo verifiquei um problema: Eu teria que ir ver o tal processo... onde?  Não este escrito em lugar algum onde estes processos são arquivados!  
A Secretaria de Infraestrutura e obras tem pelo várias sedes no centro de São Paulo. Foi necessário fazer vários telefonemas e perguntar a um numero infinito de pessoas, até que o setor jurídico me informou que o processo estava na contabilidade da Secretaria, que se encontra na Avenida São João, n º 473.  A coisa singular destas ligações e que fui sempre interrogada sobre quem sou eu, de onde, de qual empresa!
Esta semana finalmente tirei folga no trabalho fui ver este processo no setor contabilidade da  Secretaria de Infraestrutura e obras, na avenida São João, no centro de São Paulo.
Chegando no 12º andar onde se encontra a contabilidade, sem saber para onde ir, perguntei a primeira pessoa que encontrei a qual me levou ao setor de contabilidade, onde fui recebida por uma senhora, que não se apresentou, mas parecia ser a responsável pelo setor.
Quando expliquei porque estava lá começou o interrogatório:  Qual é seu nome? De onde?  De qual empresa?
Respondi a todas as informações e expliquei que não estava lá em nome de alguma empresa, mas só como cidadã munícipe.
Resposta: “Então você precisa pedir permissão para ver este processo”!        
Eu já tinha sido informada, inclusive por um ex-secretário, que o processo é publico; o setor jurídico da própria secretária também confirmara que o processo é publico.
Todavia ali na contabilidade a funcionaria anônima  (os funcionários da prefeitura de São Paulo nunca informam o nome, para não serem responsáveis pelas próprias ações, claro! ) inventou que eu precisava de autorização.  Esta pessoa também acrescentou a frase mais interessante do ano:
                          “Aqui tem a transparência mas nem tanto.

A esse ponto se prefigurava a possibilidade que eu  - depois de tanto tempo pedindo informações sem conseguir - também iria perder a tarde sem conseguir acessar o processo de uma obra publica que torrou 22 milhões de reais!
Eu tive que usar toda a minha capacidade de persuasão: expliquei (em voz alta , tom altivo e arrogante, para dar a ideia de autoridade!), que  o processo é publico e o setor jurídico  já  tinha autorizado a minha visita.
A mulher pareceu ceder e de novo hesitar.
Foi só o intervento de outro funcionário que confirmou que eu podia ver o processo e só para fazer copias precisava fazer um pedido.
Ufa! Por pouco!
O processo em si são tomos de todos os documentos relacionados com a obra: No momento o processo administrativo nº 2008-0.052.155-9 da SIURB, tem  11 tomos que deixam qualquer um desanimado. Todavia mais de metade dos tomos são os arquivos do projeto arquitetônico e parte técnica.
A parte contratual e orçamentaria é bem mais fácil de verificar.
 Armada de coragem, visualizei tudo e agora tenho uma ideia mais clara sobre o que aconteceu. Fiz o pedido de fotocopias das partes mais relevantes e aguardo a confirmação do funcionário que se encarregou de fazer-me haver as copias. Em breve  estarei escrevendo um artigo sobre a construção do centro cultural da cidades Tiradentes, depois de três meses de a procura de informações! 

Conclusões:
  A)     O sistema e-sic da prefeitura de São Paulo é muito bonito de ver e fácil de usar. Todavia não resolve o problema principal: o acesso á informação. Esta continua dependendo da má- vontade de funcionários públicos acostumados à omissão.

   B)     Se todo pedido de informação tem este andamento, é muito difícil para um cidadão tentar obter qualquer informação. Poucas pessoas que trabalham têm tempo e paciência para perseguir informações que o funcionalismo que deixar escondidas.
Até mesmo para um jornalista seria difícil: como preparar um artigo que vai levar três meses para ter todas as informações?

   C)     Os funcionários da prefeitura de São Paulo precisam passar por um processo educativo explicando que a abertura e transparência das informações é a regra e não exceção.

   D)     É preciso difundir a ideia que um cidadão não precisa se explicar para poder ter acesso a informações publicas. O cidadão tem o direito-dever de saber –nos detalhes- o operado da prefeitura- e de pedir explicação sobre ações e gastos.

A cultura do segredo dos funcionários públicos é o pano de fundo das mazelas brasileiras. A falta de clareza sobre quem faz o que, quando, onde e por que, esconde a extrema incompetência presente nestes órgãos, a ineficiência e o descaso com o dinheiro público.
‘E neste cenário opaco que se insere a corrupção. Esta não o mal principal e sim a consequência de outros males presentes na administração publica.




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